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Cânticos Nocturnos

27 septembre 2007

Crónica de Leonel Moura Um computador não é um

Crónica de Leonel Moura

Um computador não é um electrodoméstico

Na ânsia de criticar o governo por tudo e por nada, a oposição tem lançado nestes últimos dias uma série de trocadilhos sobre as novas tecnologias, em particular no contexto da distribuição pelo governo de computadores com ligação à Internet.

Além do lado caricato, com Portas a chegar tardiamente aos gigas e aos bites e Marques Mendes a falar de software e programas, o que ele imagina serem coisas distintas, estes dois dirigentes consideram que estamos perante uma mera acção de propaganda, uma simples compra de votos, aliás repetidamente comparada com a célebre distribuição de electrodomésticos pelo não menos célebre Major.

É por estas e, por outras, que a oposição não levanta voo.

Brincar com as novas tecnologias pode ter piada, e é mesmo salutar como toda a ironia e humor o são, mas quando a brincadeira é transposta para o campo do debate político torna-se assunto sério, revelador da ignorância de quem profere tais dislates. Um computador não é um electrodoméstico. Computadores ligados à Internet não são um mero “gadget” mundano, mas poderosas máquinas de ligação ao mundo. Que abrem as portas do conhecimento e são imprescindíveis à actividade profissional qualquer que ela seja. Ninguém pode hoje ser competente, em nenhum domínio, se não estiver conectado à rede. Viver sem Internet é uma forma de analfabetismo. É claro que se pode ser analfabeto e uma excelente pessoa e mesmo muito bom a fazer alguma coisa. Mas trata-se de casos isolados e não da regra. A conectividade é o aeiou dos nossos dias.

A campanha ideológica contra a Internet inscreve-se assim numa demagogia antitécnica, iniciada aliás com Platão, que alertava para os perigos da invenção da escrita. Alerta que felizmente não teve grandes consequências pois de outro modo a sua obra e personalidade não seriam hoje conhecidas.

Mas esta demagogia antitécnica, além de constituir uma perda de tempo e uma frívola persistência na sempre perdida causa da resistência ao novo, representa no campo político um sintoma de atraso cultural, uma inadaptação ao mundo contemporâneo que não pode deixar de levantar as maiores reservas e preocupações. Como pode um político pretender ser ele o mais capaz para governar o país, quando revela nada entender do mundo em que vive?

Um computador ligado à Internet significa um acesso ilimitado a uma vasta compilação de dados e uma descomunal enciclopédia. Mas é mais do que isso. É uma nova forma de comunicação, de gestão da informação, de aprendizagem em rede, com potencialidades infinitas de cooperação e sinergia.

O acesso generalizado a todos os tipos de dados e programas vem alterar significativamente o contexto de discriminação económica e social que sempre esteve presente na partilha do saber. Hoje um adolescente e um professor universitário utilizam as mesmas ferramentas e podem consultar os mesmos estudos. O conhecimento passa a estar não só disponível a (quase) todos, como aberto a (quase) toda a manipulação e aperfeiçoamento em tempo real. A novidade e a inovação, que sempre foram vistos como uma projecção no futuro, integram agora a dinâmica do instante e do presente. A expansão acelerada do saber é a consequência prática.

As implicações na educação são também evidentes.

Todos sabemos como a evolução é lenta, mas a adaptação é rápida. Enquanto estrutura essencialmente institucional, a educação é bastante conservadora e resistente à inovação. Mas sob a forte pressão ambiental, imposta pela dinâmica do saber, da experimentação, da criatividade e das novas necessidades sociais, culturais e económicas, a educação não escapa a permanentes movimentos adaptativos. A escola clássica, baseada na especialização dos saberes vai perdendo centralidade e exclusividade perante a panóplia de tecnologias disponíveis para pesquisa, processamento e transmissão da informação e do conhecimento. O conhecimento chega-nos hoje de todos os lados e não é já o produto excelso e exclusivo da academia. Neste contexto, os indivíduos tornam-se permeáveis à diversidade e mais capazes de se adaptarem à inovação. Na perspectiva genérica da sociedade, mais produtivos portanto.

Da mesma forma, a Internet não pode ser simplesmente vista como um novo media, mas precisamente como um pós-media. Ao contrário da televisão, cuja comunicação é de um para todos, ou do telefone, que é de um para um, na Internet a comunicação é de todos para todos, sem mediação. É por isso um meio radicalmente liberal, diria mesmo libertário, que permite aos indivíduos exprimirem sem controlo ou censura as suas ideias e visões do mundo. E se isso causa alguns ligeiros danos colaterais, os benefícios, no aumento da inteligência e da criatividade globais, são inquestionáveis. Talvez seja isto que mete tanto medo a quem fala muito de liberalismo mas teme acima de tudo a liberdade dos outros.

Assim, brincar com a Internet, ridicularizar a distribuição de computadores, equiparando-os a uma “batedeira eléctrica”, pode ser muito engraçado e alimentar o chorrilho de piadinhas e deixas que os deputados tanto prezam, mas só revela o enorme atraso de uma parte significativa da nossa classe política.

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1 décembre 2006

ANIMAL COLLECTIVESUNG TONGS À medida que o Animal

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ANIMAL COLLECTIVE
SUNG TONGS

À medida que o Animal Collective prospera, as potenciais referências de género parecem cada vez mais difíceis de estabelecer, tanto pelas falhas inerentes a todos os conceitos generalizados, como pelo sua aproximação ao que no futuro poderemos considerar História. Hoje, uma análise à sonoridade deste trabalho teria de percorrer uma larga ordem cronológica universal, capaz de incluir tudo aquilo entendemos como música: desde o som mais ingénuo e primitivo que se reproduziu sob a forma de ritual ou evocação nos primórdios da humanidade, até aos métodos mais revolucionários e complexos de composição como o atonalismo ou a dodecafonia. Num passado menos impenetrável, talvez meia dúzia de nomes e descrições de temas fossem suficientes para informar, situar e tecer eficazes cartografias sobre a música de Avey Tare e Panda Bear. Como uma espécie de purificação étnica, a dimensão de “Sung Tongs” reside na sua capacidade de abranger milhares de caracteres, raças e identidades, transformando a realidade multifacetada e consensual em que vive, numa unanimidade de ecos de ninguém, com pessoas aparentemente desligadas e distantes a poderem exprimir as mesmas frases, utilizando as mesmas palavras, impregnadas das mesmas linguagens e significados. De alusivo chega-nos o reflexo de uma civilização, amálgama de culturas onde a intuição e a técnica convergem ao ritmo dos números de Wall Street, múltiplos da imensidão de circuitos eléctricos que se desencadeiam, circulam e apagam abaixo do solo. A imagem de uma América onde a subversão acontece no limbo entre a superfície e o subterrâneo; onde tudo aquilo que em separado poderia facilmente descambar numa mistura incoerente de elementos díspares, se reconcilia e reconduz progressivamente a uma única estética e a uma nova verdade. (10/10)

Joana de Deus
(Mondo Bizarre # 19)

Grupo: Animal Collective
Título:
Sung Tongs

Obra Prima (5)
Ano: 2004
Não é fácil colocar em palavras tudo o que a música dos
Animal Collective afirma e, principalmente, sugere. O vasto leque de possibilidades sintáticas e semânticas que a língua nos oferece serve apenas para caracterizar uma ínfima parte das cores, ritmos, paisagens, sonhos, desvarios, melodias, loucuras, humores e sugestões que nos são apresentadas por este colectivo norte-americano em «Sung Tongues».

À falta de adjectivos capazes, como transmitir uma ideia - ainda que pequena - da magia e encantamento sublimes que este disco encerra? Não é fácil! Mas olhemos a coisa deste modo: a pouca ortodoxia formal do quarteto (ainda que volante), liderado pela dupla Avey Tare - Panda Bear, ataca a fundo todo e qualquer som do espectro audível, numa densa, intensa e perfumada caldeirada pop, onde cabem fragmentos e notas de todo o lugar e de nenhum.

A sensação de carrocel melódico-psicadélico que extravasa as fronteiras das estruturas convencionais não nos deixa encarar os Animal Collective como um grupo banal. Antes sim, obriga-nos a olhá-los como aventureiros e exploradores, que conseguiram já uma poção mágica verdadeiramente eficaz e catártica, capaz de reunir num todo sintético - as suas canções - uma quantidade gigantesca de ideias polimórficas e polifónicas, que ganham sentido apenas e se olhadas daquela exacta forma e segundo a sua apurada alquimia.

Mais do que toda a música do mundo ao alcance da nossa mão os Animal Collective, com «Sung Tongues», colocam à nossa disposição um roteiro obrigatório de achados musicológicos que nos estendem em forma de catálogo, ilustrado, comentado e... baralhado. Um disco incontornável!

A minha avaliação por faixa

Média final de Sung Tongs (2004)-3,71

1-     Leaf House 4

2-     Who Could Win a Rabbit 4

3-     The Softest Voice 4

4-     Winters Love 4

5-     Kids on Holiday 4

6-     Sweet Road 3,5

7-     Visiting Friends 3,5

8-     College 3,5

9-     We Tiger 4

10- Mouth Wooed Her 3,5

11- Good Lovin Outside 3,5

12- Whaddit I Done 3

23 octobre 2006

Joana D´ArcTítulo Original: The Messenger: The

JoanofArc

Joana D´Arc
Título Original: The Messenger: The Story of Joan of Arc
Ano de Lançamento: 1999
Direção: Luc Besson
Elenco
Milla Jovovich (Joana D'Arc)
Dustin Hoffman (A Consciência)
Faye Dunaway (Yoland D'Aragon)
John Malkovich (Charles VII)
 

Realizado por aquele que é já considerado como «o mais americano dos cineastas franceses», «Joana D`Arc de Luc Besson» é uma interpretação pessoal da vida da heroína e santa francesa do século XV, levada a cabo com um gigantesco aparato de produção e os mais avançados efeitos digitais. O filme, que foi rodado na República Checa e em França, custou cerca de 70 milhões de francos e envolveu perto de 800 figurantes, tendo Besson «ousado» estreá-lo nos cinemas franceses na mesma altura que «A Ameaça Fantasma», de George Lucas.
A actriz, modelo e também já cantora Milla Jovovich, ex-mulher de Luc Besson, sucede, no papel da já muito filmada Joana D`Arc, a nomes como Renée Falconetti (na versão de Carl Theodor Dreyer, de 1928), Florence Carrez-Delay (no filme de Robert Bresson, de 1962), Ingrid Bergman (na fita de Victor Fleming, de 1948), Jean Seberg (na de Otto Preminger, de 1957) e Sandrine Bonnaire (na versão em dois filmes de Jacques Rivette, de 1993).
Jovovich é acompanhada, em «Joana D`Arc de Luc Besson», por um grande elenco internacional que inclui John Malkovich, Vincent Cassel, Faye Dunaway, Pascal Greggory, Dustin Hoffman e Timothy West.

Joana d'Arc de Luc Besson
Mito francês ganha enfoque original em superprodução

Geraldo Mayrink 

Por mais que desmentissem depois, nunca houve uma mulher como Joana, heroína francesa. Ela mesma, Joana d'Arc (1412-1430). Guerreira, analfabeta e mística, falava com Deus e dizia-se mensageira Dele e de sua ordem para que expulsasse os ingleses que dominavam sua pátria. Morreu na fogueira aos 18 anos e seu martírio seduziu o mundo. Todo mundo conhece e reverencia a história contada em Joana d'Arc de Luc Besson com vários enfoques. Desde o terror psicológico de Martírio de Joana d'Arc (1927), de Carl Dreyer, que enlouqueceu (literalmente) sua intérprete, a atriz Maria Falconetti, ao glamour piedoso que ajudou a entronizar Ingrid Bergman em Joana d'Arc (1948), de Victor Fleming. 

Portanto, quem pensa que já viu este filme, já viu mesmo, mas note-se a novidade do enfoque: chegou a hora de canonizar Joana numa santidade espetacular. O diretor Luc Besson (Nikita, O Quinto Elemento), que nunca se conformou que o fato de ser francês pudesse impedi-lo de peitar Steven Spielberg ou James Cameron, caprichou num enredo que talvez arrepie os cabelos dos mais ortodoxos fiéis da santa. Em muitos momentos, ela parece mais uma louca furiosa. Seu filme se abre musicalmente, com a pequena Joana correndo pelas campinas de braços abertos, como se fosse Julie Andrews cantando "The Sound of Music", depois evolui para o puro terror, com nuvens estranhas no céu e lobos de olhos faiscantes. Segue-se a ascensão em palácios e campos de batalha onde rolam cabeças e ela (a sempre linda Milla Jovovich, ex-esposa do diretor e estrela de O Quinto Elemento) brilha com sua armadura prateada, fazendo milagres para espanto de um elenco fabuloso (John Malkovich, Dustin Hoffman e Faye Dunaway). Todos unidos num espetáculo pagão, bom de ver e muito pouco católico. Santa guerreira 

Quem poderia imaginar que a maior heroína da história da França viesse a ser uma jovem camponesa iletrada? Será que em algum momento os ingleses, em sua impetuosa e vitoriosa campanha em terras francesas durante a Guerra dos Cem Anos, imaginaram que seriam derrotados por um exército comandado por uma mulher? A religiosidade que fez de Joana D´Arc uma guerreira fantástica no comando dos exércitos franceses nos explica esse fenômeno histórico? Deus realmente se apresentou para Joana e pediu-lhe que empunhasse sua espada contra os invasores ingleses? Muitas pessoas se perguntam se essa história realmente aconteceu. E surpreendem-se de saber que trata-se de um acontecimento registrado, inclusive em autos impetrados pela Igreja Católica contra Joana.

A história se inicia com uma menina, verdadeiramente católica, que frequenta os cultos e vivencia sua fé. Até esse ponto nada a diferencia da grande maioria das pessoas da época em que vive, no século XIV, durante o ocaso do feudalismo. Nesse período, num país de católicos como a França, viver distanciado de Deus e da Igreja Católica significava problemas sérios para quem quer que fosse. Aplicado aos camponeses, as dificuldades tornavam-se ainda maiores.

A vida de Joana no entanto, passa por uma grande transformação quando, ainda muito menina, ela presencia um ataque desferido pelos ingleses a vila onde vive. Sua família foi dizimada e sua irmã morta com extrema violência, tendo a jovem francesa presenciado a cena horrenda através das fendas da porta que a escondia.

Acolhida por parentes próximos, sua vida muda completamente e ela começa a ter visões, através das quais anuncia estar se comunicando com Deus. Numa época marcada por um grande crença religiosa, em que a França está sendo invadida por uma outra nação e se encontra frágil e desprotegida, quando nem mesmo um rei existe por essas paradas, o surgimento de uma pessoa que consegue conversar com o criador pode ser visto como um indício de que nem tudo está perdido. As esperanças dos fervorosos cristãos franceses foram então depositadas na jovem Joana.

Quando Joana anunciou aos quatro ventos que entre os desígnios de Deus encontrava-se a salvação da França das garras cruéis dos britânicos e que ela havia sido escolhida para libertar a nação que ainda estava a se formar, garantindo ao Delfim (herdeiro do trono) a possibilidade de assumir o comando do país, imediatamente foi aceita pelo povo e, posteriormente pela nobreza, como o bastião que poderia resgatar o orgulho francês (assim como as terras).

Para o povo, tratava-se realmente da eleita de Deus. Para os nobres, não passava de um artifício para atingir seus objetivos de livrar a França dos ingleses. Se ela pudesse ajudá-los a fazer isso, seria ótimo. A partir da realização desse intento, Joana deixava de ser uma aliada e tornava-se uma poderosa inimiga.

A configuração dos objetivos escusos do herdeiro do trono, personagem vivido pelo experiente John Malkovich, dependia de forte apoio popular e o surgimento de uma figura carismática como a jovem Joana (interpretada pela belíssima Milla Jovovich, que consegue dar a personagem toda a força e integridade que a história lhe confere) parecia garantir-lhe essa sustentação. Até esse momento, enfraquecido pelos sucessivos embates com os britânicos e pelas custosas derrotas (que abalaram-lhe as finanças e o prestígio), o Delfim parecia fadado a não atingir seu objetivo real. Com o aparecimento da emblemática personagem que falava em nome de Deus e garantia-lhe o direito a coroa, faltava-lhe apenas a confirmação da autoridade real, que teria que vir com as vitórias nas batalhas.

Surpreendentemente para todos, em particular para os nobres, que viam em Joana uma simples mulher camponesa, sua sede de vitórias e o embalo de carregar consigo o que imaginava ser o poder que Deus havia lhe confiado, vitórias incríveis foram sendo conquistadas. Numa época em que as mulheres sofriam enormemente com o preconceito e a pecha de subservientes aos homens, cabendo-lhes papel secundário na história, Joana se tornava um mito. Encarnava papéis que seriam exclusivamente reservados aos homens, empunhava espadas, vestia uma armadura que protegia seu "frágil" corpo de mulher, cortava os cabelos curtos e falava como comandante.

Não demorou muito para que viesse a ser chamada de bruxa pelos inimigos. Abria-se a brecha que as autoridades francesas precisavam para poder se desfazer da mesma. Logo deixaria de ser a heroína e tornaria-se uma herege. Somente as chamas purificadoras da Inquisição poderiam permitir-lhe livrar-se das alucinações e de identificar-se como portadora das mensagens de Deus. Afinal, onde já se viu, em plena Idade Média, Deus apresentar-se aos homens utilizando-se de uma mulher, camponesa de origem, analfabeta e que, além de tudo, demonstrava força e personalidade. Inadmissível!

Até que ponto tudo isso é verossímil, principalmente no que tange aos aspectos da religiosidade, jamais descobriremos. O filme de Luc-Besson, no entanto, tem ritmo alucinante e prende os espectadores, recria com capricho visual acentuado um período conturbado, coloca em discussão uma mulher que superou os limites de seu tempo e virou símbolo de um país em sua luta pela liberdade. Não perca!

Positivo

Grandioso épico

A beleza selvagem de Mila

O grandioso elenco

A dúbia natureza de Mila: O que move Joana D´ Arc? Ardor místico e religioso, sede de vingança ou simplesmente demência?

Aprofundar: Joana D`Arc.

A minha avaliação 3,5

20 octobre 2006

Coreia do Norte pode estar a preparar segundo

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Coreia do Norte pode estar a preparar segundo teste 

A Coreia do Norte poderá estar a preparar um segundo teste nuclear, segundo a cadeia de televisão norte-americana NBC. Entretanto, Pyongyang classificou as sanções do Conselho de Segurança das Nações Unidas contra o seu país como equivalentes a uma declaração de guerra

A Coreia do Norte poderá estar a preparar um segundo teste nuclear, revelou segunda-feira à noite a cadeia de televisão norte-americana NBC, citando fontes próximas dos serviços de informação norte-americanos.
De acordo com a NBC, satélites norte-americanos de observação detectaram movimentações de pessoas e viaturas perto do local onde segunda-feira da semana passada foi efectuado um primeiro ensaio nuclear.
«Os serviços de informação norte-americanos não afastam a hipótese de a Coreia do Norte efectuar um outro ensaio nuclear. Mas não há indícios de que um tal teste esteja iminente», referiu à France Presse um responsável dos serviços secretos dos Estados Unidos, que pediu o anonimato.
Na segunda-feira, os Estados Unidos confirmaram que a Coreia do Norte tinha efectuado um teste nuclear a 9 de Outubro, mas que tinha sido inferior a uma quilotonelada (equivalente à força produzida por 1.000 toneladas de TNT).
Sanções da ONU são declaração de guerra
Entretanto, o Ministério norte-coreano dos Negócios Estrangeiros classificou as sanções do Conselho de Segurança das Nações Unidas contra o seu país como equivalentes a uma declaração de guerra.
Numa declaração captada em Seul, o Ministério norte-coreano garantiu que Pyongyang pretende a paz mas não teme a guerra.
Por isso, vai «atacar sem piedade» se a soberania do país for violada, prometendo que vai observar as movimentações dos Estados Unidos e adoptar as «medidas adequadas».

7 octobre 2006

L.A Confidential Realização Curtis Hanson

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L.A Confidential

Realização Curtis Hanson 
Intérpretes
Russell Crowe Guy Pearce Kevin Spacey Kim Basinger Danny DeVito
David Strathairn Ron Rifkin  Ano 1997  EUA 

Sinopse: L.A. Confidential, considerado pela crítica e audiências em todo o mundo um dos melhores filmes do ano, foi galardoado em 1997 com os Oscares da Academia para Melhor Actriz Secundária (Kim Basinger) e Melhor Argumento Adaptado (Brian Helgeland & Curtis Hanson). Realizado por Curtis Hanson e contando com um notável elenco, é um brilhante adaptação do clássico da literatura policial da autoria de James Elroy. Sombrio, brutal, terno e poderoso. L.A. Confidential retrata de forma fascinante e obscura a Los Angeles do início dos anos 50. Três polícias (Kevin Spacey, Russell Crowe, Guy Pearce), uma prostituta (Kim Basinger) um chulo milionário (David Strathairn), um jornalista de escândalos sem preconceitos enredo fervilhante de mistério, ambição, romance e humor.

Los Angeles, no início dos anos 50. As chefias das forças policiais (LAPD) desejam alterar a aura de corrupção interna que transpira para o exterior. Ed Exley (Pearce), é um agente que insiste fazer o que está certo, contrariando a tese dominante, enunciada pelo Capitão Dudley Smith (Cromwell), que, entre outras coisas, diz que se devem abater suspeitos, desde que se tenha a certeza que são culpados, quando seja impossível condená-los em tribunal. Bud White (Crowe) é o protótipo do polícia duro, que não hesita em espancar alguém, para obter uma confissão, e que tem especial aversão a homens que batem nas esposas. Jack Vincennes (Spacey) é consultor na famosa série de televisão «Badge of Honor», ao mesmo tempo que tem um acordo com Sid Hudgeons (DeVito), repórter de escândalos, nos termos do qual se prendem prevaricadores menores, desde que sejam estrelas de cinema ou TV, com grande acompanhamento mediático.

Uma situação de violência policial vai despoletar a ascensão de Exley, que testemunha contra colegas, o que o leva a ser odiado. Um crime sangrento, envolvendo a morte de um agente, vai originar uma investigação onde poderá estar envolvido o milionário Pierce Patchett (Strathairn), que dirige um negócio de prostituição com sósias de estrelas de cinema, onde se inclui uma Veronica Lake look-alike, Lynn Bracken (Basinger).

Curtis Hanson aceita o epíteto de "realizador de aluguer", com a maior das naturalidades. É a vida. Os seus anteriores trabalhos - «The Hand that Rocks the Craddle» (1992), com uma babysitter psicopata (Rebecca DeMornay) e «The River Wild» (1994), com Meryl Streep a praticar desportos radicais - foram um sucesso, e colocaram-no numa óptima posição para chegar à Warner Bros. com o projecto de adaptar um livro de 500 páginas de James Elroy, o que veio a fazer juntamente com Brian Helgeland. Hollywood não tem produzido filmes tão complexos e interessantes ultimamente, e não havia outra maneira de levar o projecto para a frente, senão com um grande orçamento. É difícil produzir um filme com 50 exteriores e 80 personagens com diálogos, a nível independente.

«L.A. Confidential» é um policial complexo e rico em pormenores. Os personagens de Spacey, Crowe e Pearce têm melhor caracterização que qualquer personagem principal de outro filme recente, com uma base semelhante, que, convenhamos, provavelmente teria apenas um detective e um ajudante engraçadinho. Aqui, os três são simpatizáveis, mas todos cometem os seus pecados, sem tempo para remorsos. E cada um segue os seus interesses privados. A complexidade da narrativa vai-se formando, à medida que cada um deles investiga, isoladamente, fornecendo os dados ao espectador.

A cidade de Los Angeles, no início dos fifties, é o pano de fundo do filme, mas Hanson e o cinematógrafo Dante Spinotti optaram por tratar o filme como se se passasse nos dias de hoje. Os anos 50 estão em pano de fundo, mas, à medida que a acção se desenrola, esquecemo-nos de que estamos a assistir a uma obra "de época". Já referido como marcando o renascimento do film noir, a realização talvez beneficiasse de um pouco mais de estilização, e menos sobriedade e contenção. Ou talvez não, porque este é, sobretudo, um filme que vive dos actores. O casting funciona extremamente bem, tanto ao nível de actores principais, como dos secundários. Basinger, no papel de prostituta e James Cromwell, rematam um conjunto de boas interpretações, de onde DeVito não fica totalmente de fora.

Um dos grandes trunfos do filme de Curtis Hanson é a integridade dos personagens, nomeadamente dos três "principais". Mesmo que essa integridade não signifique sempre honestidade. Com algumas surpresas muito bem orquestradas pelo caminho, acção nos momentos certos, e desenvolvimento lógico durante toda a película, cada um deles alcança o seu destino. Artigo Cinedie

A minha avaliação-4

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7 octobre 2006

A modernidade constitui uma das maiores

A modernidade constitui uma das maiores revoluções da História. As descobertas científicas e tecnológicas, o fim do Antigo Regime, a democracia e os direitos humanos, a luta contra os dogmatismos, a separação das igrejas e do Estado, a razão crítica, que ousou interrogar histórico-criticamente os textos sagrados, constituíram um projecto grandioso, impondo-se reconhecer que há conquistas irrenunciáveis, como a consciência da autonomia, os direitos humanos, a separação da política e da religião, a razão crítica.
Mas a crise surgiu e muitos pensam que o projecto moderno em parte fracassou e que há um novo macroparadigma e uma nova cultura. Os nomes para essa crise são muitos. Habermas pensa que a modernidade é um projecto inacabado, mas com futuro. Outros falam de hipermodernidade, modernidade avançada, uma outra modernidade, a sociedade da incerteza, a sociedade do perigo, a modernidade tardia, a segunda modernidade. Mas a crise está aí e, quando se fala de pós-modernidade, o que se pretende dizer com esse termo ambíguo é essencialmente a consciência da crise.
Como se manifesta e exprime esta crise? Penso que ela se situa fundamentalmente no campo do que se pode chamar a "segunda secularização" ou a secularização da secularização.
A secularização tem múltiplos sentidos, sendo importante sublinhar sobretudo dois. Um refere-se à autonomia das realidades terrestres. O outro indica aquele movimento de transferência de categorias teológicas do seu mundo próprio, que é o da religião e da Transcendência, para o mundo da imanência: por exemplo, a ideia de salvação escatológica é trazida para a imanência da História que, num progresso conduzido racionalmente, realizará todas as aspirações humanas.
A modernidade caracterizou-se por essa fé inabalável no progresso ilimitado, convicta da realização salvífica da humanidade, com a instauração do Reino de Deus. Mas houve duas guerras mundiais, o "socialismo real", no quadro de uma determinada interpretação do marxismo e das suas esperanças messiânicas, fez milhões de mortos, a ciência e a técnica mostram a sua ambiguidade e obrigam a tomar consciência da "sociedade do perigo". Daí, aquele sentimento de que a História soçobrou, não havendo senão pequenas histórias desconexas. Afinal, a promessa messiânica terrestre não se realizou.

Tendo desaparecido a ilusão da História, fica a estética, no sentido etimológico e kierkegaardiano, que substituiu a ética. Saltita-se de sensação em sensação, numa sociedade de sensações. Aparentemente, já não existe bússola, e, uma vez que se não vai para lado nenhum, pode-se ir para qualquer lado. Escreveu o filósofo G. Vattimo: "A filosofia não pode nem deve ensinar para onde nos dirigimos, mas sim a viver na condição de quem se não dirige a parte nenhuma."
A razão, que tinha sido entronizada, vê-se abalada e assiste ao triunfo do sentimento. As grandes narrativas perderam força de convicção, e o pensamento é débil. O que fica é a fruição imediata, já, aqui e agora. Os hipermercados são as novas catedrais, e o consumo hedonista impôs a sua lei.
A conclusão é que, como escreveu L. González Carvajal, "em lugar de um eu integrado, a fragmentação parece o destino insuperável do homem de hoje". E aqui reside a crise, tanto mais quanto a própria religiosidade é dispersa, pulula o esoterismo e o que se pode chamar a mística da banalidade. Não tinha prevenido A. de Tocqueville, há século e meio: "A partir do momento em que perderam a esperança de viver uma eternidade dispuseram-se a agir como se não tivessem para viver senão um só dia?"
Este pensamento de Tocqueville remete- -nos talvez para a maior expressão da crise da nossa sociedade: a nova atitude face à morte, que se tornou tabu. Disso pura e simplesmente não se fala.
A crise tem, pois, uma dupla vertente. Há o perigo do fim do humanismo, na medida em que se dissolve o homem na natureza, na física, na bioquímica. Cada vez mais o homem é produto do homem. Por outro lado, a crise está à vista na falta de sentido, na vivência do niilismo e do seu mal-estar. É assim que, por exemplo, a palavra de ordem é competir, concorrer. Mas ninguém nos diz para quê. Já não há as grandes finalidades humanas, pois tudo se reduz, segundo a razão instrumental, a meios para outros meios, sem fim. Agora, no quadro da globalização, o destino é mesmo concorrer pura e simplesmente, pois a alternativa é: concorrer ou morrer.
Terreno propício para fundamentalismos!Anselmo Borges Artigos DN

7 octobre 2006

Consórcio da EDP vence concurso das eólicas O

Consórcio da EDP vence concurso das eólicas

O consórcio liderado pela EDP no concurso de atribuição de até 1000 megawatts (MW) de potência eólica ficou classificado em primeiro lugar, 7,2 pontos à frente do segundo classificado, o agrupamento da Galp Energia. Ambos têm agora dez dias úteis para contestar a classificação, cabendo depois a decisão final ao Governo. Fontes do sector ouvidas pelo JN acham, contudo, que o ministro Manuel Pinho, não deverá decidir em sentido contrário ao júri.
O consórcio Eólicas de Portugal (EP) ficou com 80,6 pontos, contra 73,4 pontos do da Galp. Segundo o líder das EP, Aníbal Fernandes, o facto de o júri ter atribuído "mérito excepcional" à proposta permitirá instalar mais 20% da potência prevista, o que vai implicar um reforço do investimento em 250 milhões de euros na componente eólica (ver caixa).
Aníbal Fernandes estima que "até ao fim do mês" - caso o Governo confirme a decisão do júri - seja assinado o contrato de investimento. "Depois, há muito trabalho" para implementar o projecto industrial e eólico, disse ao JN, explicando que as unidades industriais para fabrico de aerogeradores estarão a operar "no máximo 24 meses" após a adjudicação e que o primeiro parque estará a funcionar no final de 2008.
Fonte do consórcio da Galp confirmou ao JN que o agrupamento vai "analisar a classificação do júri", à qual vai responder. De fora ficaram os consórcios liderados pela Eufer e Iberdrola, que apresentaram recursos hierárquicos, ainda sem resposta, ao ministro da Economia. A Ibedrola, alegando "ilegalidades" na classificação, requereu a suspensão do concurso para o Tribunal Administrativo de Lisboa, não tendo recebido ainda resposta. Entretanto, o seu presidente disse ontem ser "curioso" que só tenham passado à negociação final dois consórcios portugueses.
Após a adjudicação destes 1200 MW, o júri apreciará as propostas à fase B do concurso, para atribuir 500 MW, sendo o vencedor conhecido até final do ano. Fonte JN 5-10-2006

MAIS DE SEIS MIL MEGAWATS
Portugal produz 6526 megawatts (MW) de electricidade através das seguintes energias renováveis: eólica; hídrica; biomassa; biogás; fotovoltaica; resíduos sólidos urbanos. A produção energética através das ondas das marés também é uma aposta, mas ainda está na fase inicial.
O recurso hídrico ocupa, neste momento, o primeiro lugar em potência instalada: 4774 MW. Segue-se o eólico, com 1286 MW (crescimento de 72 por cento no primeiro semestre de 2006, comparando com o mesmo período do ano passado).
Até 2010, a energia eléctrica produzida em parques eólicos ultrapassará os seis mil MW. Agora, decorre o concurso de atribuição de potência eólica até 1200 MW. O concurso foi contestado pelos consórcios de que fazem parte a Iberdrola e a Gamesa.

NÚMEROS
2800 MWde potência eólica é o objectivo da EDP até 2008. A energética pretende crescer através de aquisições de parques eólicos lá fora.
2,1 mil milhõesde euros é o investimento da EDP em energias renováveis nos próximos dois anos. A eólica é a aposta forte.
6200 MWde potência eólica instalada em 2008. Eis o objectivo da espanhola Iberdrola, que é o primeiro produtor mundial desta energia.
4% da energia eléctrica produzida pela EDP é de fontes renováveis. Em 2008, o sector das renováveis terá uma representação de 17 por cento.
13,2 millhõesde MW é a capacidade de produção instalada de energia eólica nos Estados Unidos da América, líder mundial.
35% de fontes de energia renováveis têm de estar incorporados na produção eléctrica de Portugal até 2010, como estipula uma directiva da UE.
1,5 mil milhões de euros de investimento e a criação de 1800 empregos são previstos pela EDP em Portugal.

7 octobre 2006

Animale Collective - Feels Na mira destes

animalcollective

Animale Collective - Feels

Na mira destes concertos está, naturalmente, a divulgação de algumas das canções de Feels, o melhor álbum até ao momento editado pelos Animal Collective e, sem dúvida, um dos mais entusiasmantes discos de 2005. O grupo, que para este disco voltou a contar com a presença activa dos seus quatro elementos, opta aqui pela construção de canções espantosamente estruturadas e ricas em fontes de som, nas quais um sentido mais evidente de forma (leia-se canções) não significa o abdicar do seu habitual desejo de liberdade. O álbum arruma definitivamente quaisquer intenções taxonómicas, partilhando heranças de géneros e atitudes musicais (folk, psicadelismo, prog, e o que mais ali quisermos identificar), procurando antes o prazer da descoberta de formas pessoais de visitar alguns desses terrenos já comprovados como férteis na história da música popular. "As coisas que nos influenciam são até muito vagas. E quando somos influenciados por certos tipos de músicos não o somos exactamente pelo seu som, mas mais por uma ideia meio nostálgica de contemplação sobre o que certos tipos já fizeram, de como o fizeram", explicaram em conversa ao DN. Na sua filosofia de trabalho, que este álbum claramente traduz, há ainda um sentido de desafio, de vontade em desbravar o novo, o inesperado, como explica Panda Bear "Gostamos de fazer sempre coisas novas. Não gostamos de nos repetir, de usar os mesmos tipos de soluções". Este músico, de resto, foi a razão pela qual os Animal Collective ensaiaram esta digressão em Lisboa e a abrem publicamente em Portugal. Residente entre nós há algum tempo, Bear já tem obra a solo criada por cá.
Nestes próximos dias sugere-se o encontro certo com a banda certa neste momento. Uma banda que, de álbum para álbum, cada vez mais deixa crer que é um dos nomes pelos quais o nosso tempo será um dia recordado. Nuno Galopim

Há algum tempo, quando iniciava a minha actividade actual, um colega ligeiramente mais velho que eu desabafou. Disse que na nossa área já tudo o que era fácil ou mais óbvio tinha sido feito, e que nos restava apenas o que era difícil, aquilo que os que nos precederam não quiseram fazer porque não tiveram paciência para tal. Foi uma afirmação exagerada, mas com o seu quê de verdade. No pop-rock actual a situação não é muito diferente. Depois da sua infância, nos finais dos anos 60 chegou o primeiro choque do "está tudo feito". A solução encontrada pelas bandas na altura foi "complicar" e "refinar" o rock e a pop, dando origem ao que se veio a chamar rock progressivo. Com isso nasceu um periodo áureo do pop-rock, onde bandas como King Crimson, Pink Floyd ou Can brilharam com força. Não demorou muito tempo até que a procura da complexidade começasse a gerar o exagerado e o excessivo. Bandas como Rocket from the Tombs ou os Ramones vieram e mostraram que afinal ainda havia muito que fazer no rock, que não era preciso complicar. As coisas ficaram assim durante anos, os efeitos do punk irradiaram e iluminaram muita da música popular feita na década de 80.
Até chegarmos ao final da década de 90 e assistirmos à primeira crise criativa realmente a sério do pop-rock. Com o post-rock no ar e a electrónica cada vez mais presente, simplesmente parecia que não existia mais lugar para o rock no novo milénio que se avizinhava. Parecia, mas não era verdade. Aconteceu que os miúdos ainda queriam ouvir rock, e não conheciam o antigo. Aconteceu que não se importaram de ouvir bandas que copiavam descaradamente o antigo. Aconteceu que gostaram dos The Strokes, dos Interpol, dos Franz Ferdinand e dos Kaiser Chiefs. E então tornou-se óbvio que o rock passou a cumprir um outro espaço. Não o da novidade, provocação ou rebeldia, mas o da catarse de sentimentos e de vontade de se divertir com canções como estas. E então reapareceu o rock com um novo corpo, sem rebeldia, mas com tradições.
E... no entanto... será que ainda existe lugar para o lado irrequieto do rock de outrora? Será que a surpresa desapareceu definitivamente? Ouve-se bandas como Gang Gang Dance e pressente-se que ainda há algo no ar. Ouviu-se o "Sung Tongs" dos Animal Collective e viu-se que ainda há lugar para a novidade. Abrasamos com Wolf Eyes e sentiu-se a alma dilacerante do rock. Descobriu-se os Lightning Bolt e viu-se que afinal o rock ainda podia ser mais violento do que aquilo que parecia poder ser. Simplesmente tudo isto acontece numa nova cultura underground essencialmente americana. Sem as revoluções de outros tempos, é certo, mas ainda com o espirito de quem faz coisas que ainda não se fizeram.
E "Feels" dos Animal Collective aparece agora. Ouve-se "Feels" e a primeira reacção foi "mas que coisa estranha é esta?". Os Animal Collective continuam estranhos como outrora, talvez mais. À segunda audição começam a chover pedaços de memória no cerebro. Olha, aquilo parece The Beach Boys... e aquilo não é Pink Floyd? A dada altura chego mesmo a pensar que isto é novamente a tal pop feita com um aspirador que os Mercury Rev um dia fizeram, em épocas mais inspiradas. Continua-se a ouvir "Feels", perdido nestas considerações racionais, semi-intelectuais. Quando se dá por isso, surge a surpresa. Sem me aperceber estava irremediavelmente viciado nas melodias das canções de "Feels". E o que antes parecia uma forma mais rebuscada de fazer música pop, quase no espirito do que foi um dia o progressivo, passou a transparecer como um disco completamente instintivo, que se deixa levar por sentimentos dispares que fazem com que cada canção valha por 10. Não se trata de um disco com melodias muito inspiradas... trata-se de um disco em que cada canção trata de uma forma inesperada muitas melodias (nem sempre inspiradas), que ouvidas desta forma são um autêntico carrosel do pop-rock. As imagens de memórias passam pelas nossas cabeças, e também dá vontade de gritar "aleluia" como chega a acontecer na canção "The Purple Bottle" deste álbum. "Feels" é um daqueles discos que irão certamente adquirir um certo sabor de intemporalidade, mas por agora só resta ouvir o que lá está.

Folha de São Paulo

Há crianças na capa de Feels, o sétimo disco dos Animal Collective em cinco anos. Deakin, Geologist, Panda Bear e Avey Tare devem sentir-se como crianças. Crianças que brincam no recreio, crianças rurais que deitam líquidos azuis da boca e dos olhos, crianças que perdem a cabeça (literalmente) com patos, pintainhos, cabras, pássaros e vegetação à volta. Este espectáculo grotesco é enganador, já que a capa esconde um dos melhores e mais importantes discos pop do ano 2005. “’Cause it’s messy / yes / this mess is mine” (com um prolongamento grande da vogal “i” de “mine”), de “Did you see the words” dá o tom para o disco. Esta confusão, para o bem (não há mal em Feels), é toda deles. São estas explosões, estas vogais prolongadas, os “oooh”, os “aaah”, aliados às guitarras hipnóticas e viciantes, que fazem de Feels o que ele é: um disco perfeito, de uma perfeição descuidada, sem momentos maus ou fracos. Isso e as canções, todas elas absolutamente enormes. “Did you see the words” tem vozes de crianças felizes a gritar, tem partes grotescas, como “The words cut open / your poor intestines / can’t deny / when the inky periods drip from your mailbox / and blood flies dip / and glide reach down / inside” (com o segundo “I” prolongado), mas também tem “whoa-whoa” catárticos.
“Grass”, o single de avanço, começa com uma guitarra preguiçosa, à qual se junta rapidamente uma percussão tribal e uma cadência épica com uma pequena muralha de som de guitarras. Tem uma ponte fortíssima com o grito de “We do the dance up on the plains / then I shake your shoulders” a entrar no refrão “You push me down into the grains / who rubs our noses in the night? / we do we do”, que culmina com gritos de pássaros ou hienas, “pow / now / pow” repetidos várias vezes. É uma canção com uma estrutura algo convencional, mas não menos eficaz por causa disso. “Flesh Canoe” vai-se desenrolando de forma preguiçosa, mas, mesmo antes de se tornar aborrecida, há a parte final que dá sentido a tudo: “’cause what this song’s about / is me singing / I’m just wondering what to do / with you, myself and me / naked in the mirror of the bathroom.” “The Purple Bottle” é para dançar na travessia de um rio no meio da floresta tropical, com um piano, guitarras, percussão e “de roo de roo roo oo”. “Sometimes I’m quiet and / sometimes you’re quiet / hallelujah! / sometimes I’m talkative / and sometimes you’re not talkative / I know” é uma cantada à volta da fogueira, com crianças a usar máscaras e a dançar com paus nas mãos ou assim. Há outras pérolas, como “Can I tell you that you are the purple in me?”, mas no fim a canção muda para um break à la Beach Boys circa Smile, com uivos. “Bees” tem aquilo que podia ser um qualquer instrumento de cordas tocado com facas (mas será, provavelmente, uma autoharpa).
“Banshee Beat” é provavelmente a melhor canção do ano, desde a guitarra do início para a catártica experiência que é quando a canção propriamente dita começa, com as percussões tribais e o grito em “I ducked out / go down to find the swimming pool” (mais uma vez, “pool” é prolongado, no melhor exemplo disso de todo o disco).
Tem a melhor letra do disco, com partes altamente citáveis, tais como “I don’t think / that I like you anymore/ well I found new feelings / at the feeling store” ou “Confusion’s not a kidney stone / in my brain / but if we’re miscommunicating / do we feel the same?Tudo aqui é perfeito, as melodias, a percussão, os gritos de “swimming pool”, os gritos de “swimming pool”, os gritos de “swimming pool”…”swimming pooOOOOOOOOOOOOOOOL”. Faz todo o sentido, todo o sentido. É como se nada tivesse feito tanto sentido como “Banshee Beat” até a este momento. “Daffy Duck” tem o riff de guitarra, a voz cantada e as desbundas melódicas da guitarra. “Loch Raven” tem um loop digital e uns cânticos de vozes, percussão tribal e é a canção mais exploratória do disco. “Turn into Something” fecha o disco em perfeição, com vozes “la la eh” e algo que parece vindo de uma quinta num qualquer espaço rural. That should turn something / you should turn into something”. E tudo acaba, com o piano de Kristin Anna Valtysdottir (dos Múm) e um bocado de barulho sabe-se lá vindo de onde.
Feels é disco para ouvir todos os dias, a toda a hora. É disco para dar insónias quando se entranha dentro de nós e não conseguimos dormir a pensar em toda a beleza, em todas as melodias, em todas as canções. Mostra uns Animal Collective adultos e ao mesmo tempo eternamente jovens, eternamente crianças, como sempre foram. A diversão e a emoção tocante, o absurdo e a beleza, tudo ao mesmo tempo, em nove faixas que fazem todo o sentido juntas. Não encontraremos outro disco assim, nem hoje nem amanhã, nem nos próprios Animal Collective, talvez residindo aí a sua maior força. Os ácidos, os Beach Boys, o recreio, as melodias, a infância, o recreio, o amor. Feels é tudo isto e muito, muito mais.

Rodrigo Nogueira.

A minha avaliação -4.05

1- Did You See the World 4

2- Grass 4

3- Flesh Canoe 3,5

4- The Purple Bottle 4,5

5-Bees- 4

6- Banshee Beat 4,5

7- Daffy Duck 4

8-Loch Raven 4

9- Turn Into Something 4

Nota final: Os Animal Collective são o evento musical mais extraordinário da última e talvez da próxima década. 

1 octobre 2006

Johnson Controls vai entregar na sexta-feira um

Johnson Controls vai entregar na sexta-feira um processo de despedimento colectivo dos 875 trabalhadores das fábricas de Nelas e Portalegre.
Segundo António Branco, da Comissão de Trabalhadores, o fundamento do despedimento é "uma deslocalização para a Alemanha e Eslovénia" como ponte para a Rússia.
Foi isso que terá sido referido aos trabalhadores pela comissão negociadora da empresa que integra os directores de Recursos Humanos português e ibérico.
Quanto a indemnizações, ainda não há respostas. No primeiro encontro com vista ao encerramento, a Comissão de Trabalhadores pediu a criação de um gabinete de apoio psicológico que será instalado em breve.

Johnson Controls fecha duas fábricas portuguesas por "excesso de produção"

"Esta fábrica vai fechar em Agosto de 2007. Os trabalhadores estão magoados, incrédulos, mas vivos." O desabafo é de António Branco, porta-voz dos trabalhadores da Johnson Controls do Alto Alentejo, após a reunião de ontem com a administração, durante a qual foi anunciado o encerramento definitivo das unidades de Portalegre e de Nelas.
A fábrica alentejana vai fechar as portas em Agosto de 2007 e a de Nelas, no concelho de Viseu, tem também encerramento previsto para meados do próximo ano, refere a empresa, em comunicado. Em Portugal, a multinacional norte-americana apenas manterá a unidade de Palmela (Setúbal).
A Johnson Controls, líder mundial no fornecimento de sistemas interiores para automóveis, justifica a decisão com "o excesso de produção e o aumento de custos em Portalegre". As razões invocadas para o encerramento da unidade de Nelas apontam igualmente para a "pressão de custos que toda a indústria automobilística tem sofrido e ao excesso da procura no mercado de revestimento de assentos de automóveis".
Esta medida afectará aproximadamente 225 funcionários em Portalegre e 650 colaboradores em Nelas, que no próximo ano enfrentarão uma nova realidade nas suas vidas, o desemprego.
No mesmo comunicado, o grupo norte-americano sublinha que, "sempre que possível, a empresa oferecerá aos funcionários empregos em outras fábricas da Europa", situação que desagrada aos trabalhadores, que sublinham: "Daqui só para o desemprego. Para fora do País não vamos."
António Branco, também representante do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos e Afins, acusa a empresa de tratar os trabalhadores como "simples números".
Para o sindicalista, " tudo será decidido em plenário de trabalhadores na próxima segunda-feira. Para já, penso que vamos ter de negociar as rescisões e os despedimentos."
António Branco garante: "Vamos lutar para conseguir indemnizações, já que neste momento ainda precisam de nós para produzir."
O comunicado refere ainda que "os volumes de fabrico actuais devem ser gradualmente transferidos para outras fábricas espalhadas pelo mundo", contrariado, assim, a hipótese de centralizar toda a produção de Nelas e Portalegre em Espanha.
PSD e CDS-PP no Parlamento
Os deputados das bancadas do PSD e do CDS-PP reagiram ao anúncio de encerramento com requerimentos parlamentares. O popular Hélder Amaral quer que o ministro da Economia esclareça "que medidas pensa o Governo tomar para evitar o encerramento das fábricas da Johnson Controls em Nelas e Portalegre".
Já o PSD - em requerimento parlamentar subscrito por Almeida Henriques - quer saber "quantas reuniões teve o Governo com os responsáveis desta multinacional, com o objectivo de acautelar situações destas, numa atitude pró-activa e não somente reactiva". Os sociais-democratas querem, ainda, saber quais "os fundos comunitários" de que a empresa beneficiou. Artigo DN

27 septembre 2006

Tubarão Título original: Jaws Ano: 1975

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Tubarão

Título original: Jaws
Ano: 1975

Realização de Steven Spielberg

Actores: Robert Shaw, Richard dreyfuss e Roy Scheider

A minha avaliação: 4

Em 1975, o realizador Steven Spielberg levou ao ecrã a novela campeã de vendas de Peter Benchley, e fê-lo com uma incrível intensidade e um angustiante suspense. Tubarão, um dos filmes de maior sucesso da história do cinema, marcou para sempre os espectadores de todo o mundo (e os banhistas das praias...), aterrorizando apenas com estas palavras: «Não entre na água».
Uma vez instalado o pânico, Roy Scheider, Richard Dreyfuss e Robert Shaw unem esforços na luta desesperada para acabar com as quase três toneladas do terrível assassino branco...

Num número dedicado ao Verão, seria impossível esquecer um dos melhores vilões de sempre. Ou será mais correcto chamar-lhe um dos piores de sempre? Não é por acaso que O Tubarão é tão marcante. E tal não se deve apenas a um exímio trabalho de bailado robótico. É preciso entregar os louros a quem de direito, ou seja, Steven Spielberg.
Apenas com O Tubarão percebe-se porque Spielberg se mantém como um dos mestres do entretenimento. No mesmo filme, que serve na perfeição uma sessão de cinema em família, temos sangue, emoção, terror e, ainda que breves, momentos de puro melodrama. Tudo servido com picos de interesse que parecem estudados matematicamente. É impossível manter uma batida cardíaca normal ao ver este filme. Os momentos em que tudo parece acalmar, servem apenas para tornar as emoções seguintes ainda mais lancinantes.

Quem não se recordar das imagens dos banhistas, algo desconfiados, a entrar no mar de Amity? Do receio na cara dos mais velhos e da alegria das crianças com os seus barcos insufláveis? Do caos de corpos e salpicos quando é dado o alarme de tubarão na água? Um falso alarme – uma inconsciente mas divertida brincadeira de putos – que pouco depois se torna real.
O Tubarão centra-se então na saga de três homens numa caça ao animal. Uma luta desigual – o barco é pequeno, o tubarão é enorme – travada no lado humano por três espécimes cheios de falhas mas com vontade de vencer. Um trio que se une com um objectivo comum, mas com ideias de realização divergentes. Um trio, que fechado num barco em alto mar, não tem outra hipótese se não aliar-se nos seus medos, inseguranças e desejos de vingança. Uma aliança personificada na história de Quint sobre a desgraça a bordo do USS Indianapolis, após ter lançado a bomba de Hiroshima.

Um dos trunfos de Spielberg é essa mestria em personificar os nossos alvos de atenção. Uma barbatana é secundária quando primeiro temos uma imensidão de mar para temer e depois um, dois e três barris amarelos. Outro é o espaço que nos deixa à imaginação. Sem nunca o mostrar, Spielberg obriga-nos a imaginar o fundo do mar repleto de pedaços humanos, dedos, braços, pernas ou troncos. O que depois de ver um rosto petrificado pelo terror e pela dor não é difícil de desenhar nas nossas mentes.
Rever hoje O Tubarão, numa sala de cinema ou em casa, desde que numa televisão de grandes dimensões, é uma experiência arrepiante. Não há ponto no ecrã que Spielberg não tenha enchido de narrativa. Não há acção em segundo ou primeiro plano que não faça explodir a batida cardíaca, não há pormenor de mar que não arrepie porque a qualquer momento poderá emergir o temível.

Texto de Gabriela Ferreira

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Cânticos Nocturnos
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